A ala mais populosa do agronegócio cobra comprometimento de candidatos. Demandas incluem avanço na assistência técnica e políticas sociais. Em Campo Magro (região de Curitiba), a família Escher faz investimentos e garante a renda com 10 hectares (cerca de 13 campos de futebol). Maria Salete, a matriarca, conta que só com crédito obtido via Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf) foi possível construir uma leiteria e adquirir um caminhão. “Sem acesso a esses recursos, nós não estaríamos produzindo o volume de hoje”, revela.
Com mais de 1 milhão de eleitores e cerca 90% dos imóveis rurais do Paraná, a agricultura familiar tenta fazer valer seu poder de voto e lança uma série de reivindicações aos candidatos a governador. O grupo alega ter sua importância diminuída e quer evitar esquecimento ainda mais grave após as eleições.
Cerca de 517 mil das 560 mil propriedades do estado, ou 92,32%, são pequenas unidades produtivas (minifúndios), conforme o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra). Esse é um dos indicativos que mostram que há muito mais eleitores na agricultura familiar do que na comercial.
Crédito rural não é problema neste momento, informam os representantes dos produtores. A agricultura familiar teve orçamento do Pronaf reajustado em 14,8% — para R$ 24,1 bilhões em âmbito nacional,com previsão de repasse de R$ 3,9 bilhões ao estado na safra 2014/15. Cresce a pressão por mais assistência técnica, uma carência que permeia os discursos políticos mas que ainda não foi suprida. O setor pede ainda mais atenção social, educação e regularização fundiária.
“Temos cerca de 30% das propriedades rurais do estado ainda não regularizadas. Há também um número grande de trabalhadores informalizados, que não conseguem acesso as políticas públicas”, pontua o presidente da Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado Paraná (Fetaep), Ademir Mueller.
O próximo governo precisa dar mais atenção à sucessão rural, defendem os sindicalistas que representam o Paraná e os estados vizinhos da Região Sul. “Faltam estímulos para manter o jovem no campo”, pontua Diego Kohwald, coordenador de Finanças da Federação dos Trabalhadores na Agricultura Familiar da Região Sul (Fetraf-Sul).
Parte das demandas está contemplada no plano de governo dos três candidatos mais bem posicionados nas pesquisas (Beto Richa, Roberto Requião e Glesi Hoffmann), mas sem detalhamento. O foco do trio é semelhante: assistência técnica, apoio à produção e capacitação no campo (confira no gráfico).
Essas carências são nacionais. “Hoje o desafio é levar informação, promover acesso ao conhecimento. Ainda devemos isso para parte dos agricultores”, avalia o diretor de financiamento do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), João Luiz Guadagnin.
>>Um pé atrás
Propostas sem detalhes geram desconfiança.
A falta de detalhamento das propostas dos candidatos do Paraná preocupa a agricultura familiar. “Percebemos que ainda não há um compromisso forte com a agricultura familiar, mesmo com a importância econômica e social do setor”, critica o presidente da Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado Paraná (Fetaep), Ademir Mueller.
Num clima de desconfiança, a entidade iniciou a distribuição de 50 mil panfletos para conscientizar os pequenos produtores sobre a importância de um posicionamento crítico para o voto consciente. “E se precisar vamos imprimir o dobro disso”, promete Mueller. “É importante não votar em corruptos, ficha-suja ou em quem não conhece a nossa luta”, reforça.
Um documento com as principais demandas do setor está sendo finalizado e será encaminhado os principais candidatos na disputa. A mesma estratégia foi adotada pela agricultura comercial na última semana.
Os sindicatos dos trabalhadores rurais possuem um histórico de militância. Anualmente, a Fetaep realiza o Grito da Terra, que traz a Curitiba representantes de todo o estado para protestar e cobrar os governantes. O evento também ocorre em escala nacional, levando a Brasília a pauta de reivindicações dos agricultores familiares.
Demanda
Produtores confirmam necessidade de apoio.
No campo, quem se mantém na agricultura familiar relata que, sem apoio governamental, a produção de alimentos em pequenas áreas seria inviável. Essa avaliação vem principalmente de segmentos que têm custos elevados e estão sujeitos a variações bruscas no mercado.
Em Campo Magro (região de Curitiba), a família Escher faz investimentos e garante a renda com 10 hectares (cerca de 13 campos de futebol). Maria Salete, a matriarca, conta que só com crédito obtido via Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf) foi possível construir uma leiteria e adquirir um caminhão. “Sem acesso a esses recursos, nós não estaríamos produzindo o volume de hoje”, revela.
Além da produção de leite e verduras orgânicas, os Escher também fazem processados como iogurte, geleia, molho de tomate e pães. Parte da produção é negociada via Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), que direciona os produtos para a merenda escolar, por exemplo. A ampliação da renda mostrou-se decisiva para que os dois filhos de Salete permanecessem no campo. “Tenho 54 anos, já passei por dificuldades, mas a realidade mudou.
Se eu não tivesse acesso a crédito, provavelmente meus filhos estariam procurando trabalho em outro lugar”, conta. Para o coordenador Federação dos Trabalhadores na Agricultura Familiar da Região Sul (Fetraf-Sul), Diego Kohwald, o estado precisa criar uma política estadual de fomento à agroindústria e a agregação de valor da produção do campo. O diretor de financiamento do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), João Luiz Guadagnin, analisa diz que o campo tem “m grupo menor de pessoas, mas com boa capacidade empreendedora e de gestão.”
Com informações: agro.gazetadopovo.com.br/