Veja todas as fotos dos mergulhadores na pedreira (sucatas de veículos) e conheça a imensa polêmica da transferência de água da pedreira de Campo Magro para Curitiba. Mergulhadores (veja fotos) e ambientalistas questionam a operação da Sanepar. A forte estiagem em todo estado tem feito a Companhia de Abastecimento do Paraná (Sanepar) a adotar medidas emergenciais de captação de água para Curitiba e região metropolitana. Desde 5 de julho, a Sanepar bombeia água da Pedreira Maringá, popularmente conhecida como Pedreira do Orleans, na cidade de Campo Magro, para o Rio Passaúna para reforçar o abastecimento. Essa operação está preocupando não só ambientalistas como equipes de mergulho que treinam no local.
A importância da Pedreira do Orleans para equipes de mergulho é pelo fato de ali existir o único simulador de naufrágio da América Latina. Entre as corporações que fazem treinamento de mergulho na pedreira estão o Corpo de Bombeiros, Defesa Civil, polícias Militar e Civil e o Exército.
O caso ganhou proporção e chegou à Comissão de Ecologia, Meio Ambiente e Proteção Animal da Assembleia Legislativa do Paraná. Um ofício foi encaminhado à prefeitura de Campo Magro para que o município tomasse providências urgentes sobre a pedreira. O documento pede que sejam interrompidas imediatamente o bombeamento de água da Sanepar e sugere um diálogo entre as partes, com a apresentação de estudo de impactos socioambientais.
LEIA TAMBÉM – Edital do projeto da ponte de Guaratuba é lançado pelo governo
Em nota, a prefeitura de Campo Magro informa que tem ciência e entende a necessidade do bombeamento da água devido à crise hídrica. Entretanto, o município afirma que toda a responsabilidade ambiental da operação está a cargo da Sanepar. Já a Sanepar afirma que tem licença ambiental para o bombeamento (leia mais abaixo).
Treinamentos
O lago na pedreira levou 20 anos para alcançar a profundidade de 45 metros, desde que foi desativada. Há cerca de 10 anos ela é utilizada para treinamento de mergulho de equipes das forças de segurança pública.
A estrutura criada e a qualidade ambiental da pedreira, que garante profundidade e visibilidade, faz com que a região seja procurada por mergulhadores de todo o Brasil. “Depois dela, só encontramos estruturas parecidas no interior de São Paulo e em Minas Gerais”, comenta o engenheiro agrônomo Robin Hilbert Loose, diretor da MarBrasil Ciência e Mergulho.
“A cada dia que passa, o nível desce, era 45 metros e está com 39 metros agora. Vão destruir um ecossistema que se tornou natural e demorou 20 anos para se formar por causa de 12 dias de abastecimento? Não é justo. Não foi feito um estudo de impacto ambiental para testar danos, não foi feito nada”, aponta o engenheiro agrônomo Robin Hilbert Loose. “São cardumes, aves selvagens, capivaras, lontras, pacas, marrecos, dentre várias espécies de peixes. Essa pedreira desativada tem água limpa, tão pura que tem vida, ao contrário de outras pedreiras, que tem alcalinidade alta. Ela é única”, salienta o engenheiro.
Bombeiros
O tenente Henrique Bortolini, do Grupamento de Operações de Socorro Tático (Gost), grupo especializado em buscas do Corpo de Bombeiros, reconhece a importância da pedreira. “A gente utiliza em nossos cursos de capacitação dentro do Corpo de Bombeiros. Nossos mergulhadores são treinados para atividades básicas e mais avançadas de mergulho para ocorrências de busca aquática”, explica.
Apesar de reconhecer a qualidade da água e do espaço de treinamento que a região oferece, o tenente entende que a diminuição do volume de água na pedreira reduziria a capacidade dos treinamentos.
Os Bombeiros utilizam a região para treinamentos desde 2014. Cerca de 100 integrantes da corporação realizaram cursos no local. “São cursos voltados mais para busca aquática, de corpo ou objeto. Esses treinamentos são importantes não só para o Gost, como para todo o Corpo de Bombeiros do estado inteiro”, acrescenta. Bortolini, no entanto, finaliza: “o Corpo de Bombeiros reconhece a atual crise hídrica e entende as necessidades de abastecimento de água à população”.
“Ninguém nega a crise hídrica”
Para o diretor executivo da Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem e Educação Ambiental (SPVS), Clóvis Ricardo Borges, os ambientalistas entendem a gravidade da estiagem que o estado vem sofrendo, mas acreditam que há outras opções para a Sanepar.
“Ninguém nega a crise hídrica. Mas a Sanepar decidiu intervir num local de atividades de treinamento importantes, de utilidade pública, um local que se recuperou ao longo dos anos. A companhia capta água dali porque é o ponto mais próximo para abastecer o reservatório. É uma escolha por menor custo”, salienta Borges.
“Está cheio de outras minas, cavas, como o Reservatório do Rio Verde, da Petrobras. A pedreira [do Orleans] não é só uma reserva de água, estão destruindo e inviabilizando as atividades para as próximas décadas, num lugar que demorou 20 anos para ficar como está. Estamos brigando com a Sanepar”, ressalta.
E aí, Sanepar?
Em nota, a Sanepar diz que prioriza o uso da água para abastecimento humano, de acordo com o decreto de Emergência Hídrica de 7 de maio de 2020, do governo do estado. A Sanepar obteve, em 27 de maio, aprovação do Instituto Água e Terra (IAT) para captar água da Pedreira do Orleans por dois anos.
A Sanepar informa ainda que a área é de propriedade particular e que tem autorização da pedreira para acesso, instalação de equipamentos e captação de água. “O local é uma Área de Preservação Ambiental (APA) do Passaúna, que é uma unidade que concilia preservação da natureza com o uso sustentável de recursos naturais. A Sanepar tem o direito de operar em lugares de uso sustentável. Com a outorga concedida pelo IAT, a Sanepar cumpre normas legais e ambientais para uso dessa água”, finaliza a nota.